E também ceticismo
e outras linhas de pensamento
CARLOS ALBERTO
REIS
Por que acreditar
em discos voadores?
Se a pergunta parece descabida num primeiro momento, uma análise isenta de paixões e à luz de um amplo conhecimento em outras matérias parece respondê-la de maneira clara e, de certa forma, conclusiva. Que matérias são essas? Que outros campos do saber podem oferecer esclarecimentos que permitam, no mínimo, uma reflexão mais profunda voltada ao cerne do problema? Cabe ainda desdobrar a pergunta: Precisamos acreditar? Para responder, é preciso fundamentalmente duas coisas: por um lado, conhecer o fenômeno OVNI pelo viés de sua estrutura intrínseca, e por outro, com absoluta isenção, mergulhar intensamente em áreas do conhecimento que, de alguma forma, em última instância, tratem do ser humano, ou melhor, da condição humana em toda a sua complexidade. E o que encontramos ao vivenciar essas duas frentes de trabalho? Encontramos a resposta para a questão proposta. Quando se tem às mãos os melhores autores e as melhores obras; quando se tem a legítima intenção de buscar conhecimento e quando se tem a consciência (ou se adquire) de como se manifesta a natureza humana, a resposta salta aos olhos de maneira inequívoca. Pois aí estão, para quem quiser ver, Antropologia, Sociologia, Psicologia, Psicanálise, História, Religião, Mitologia, Neurociências, Biologia, Ciências Astronômicas, Filosofia. Aí estão alguns dos mais importantes nomes em cada uma dessas disciplinas – Lévi-Strauss, Zygmunt Bauman, Gilbert Durand, Ernst Cassirer, Marilena Chauí, Constança M. César, Rubem Alves, Mircea Eliade, Jung, Freud, Campbell... uma constelação de figuras notáveis que nos legaram seus melhores saberes. E a convergência de todas essas leituras e de todos esses pensamentos, estudos, pesquisas e indagações, com fulcro na mitologia, e todos sem qualquer relação com a ufologia, nos levam a identificar a extrema fragilidade e desamparo da espécie humana diante de si mesma, do seu destino e do inegável isolamento no cosmos. Fragilidade, desamparo, carências, angústias, medos, paradoxalmente ao lado de sua magnífica capacidade de criar, inventar, raciocinar, construir. Esse o dilema básico – o homem colocado no ponto equidistante entre uma existência divina e outra primitiva – uma ponte imaginária suspensa por um inexorável elemento: a finitude humana, sem qualquer possibilidade de burlar essa insuportável espera. Se os mitos dizem isso o todo momento, desde sempre, em todas as sociedades – primitivas ou modernas, e se os estudos comparativos entre mitologia e ufologia apresentam indiscutíveis semelhanças em sua natureza, estrutura, forma, narrativas e função, parece correto depreender que sim, precisamos acreditar em discos voadores. Para superar a angústia visceral da experiência da solidão e do silêncio cósmico, o homem cria fantasias, quimeras, ilusões e utopias como mecanismo de defesa e autopreservação contra uma realidade que expõe sua desimportância diante do implacável pêndulo do tempo e da grandiosidade do universo.
UBIRAJARA FRANCO RODRIGUES
Disco Voador
Existe
Disco Voador é o nome popular, folclórico, fantasista, dado ao que a partir do final da Segunda Guerra Mundial foi classificado como “Objeto Voador Não Identificado”, Óvni, ou UFO. Disco Voador existe como fenômeno. Entenda-se fenômeno, na significação filosófica e científica atual, como o objeto, o ser, em si. E até que se chegasse a admitir fenômeno dessa forma, antes ele foi considerado como a mera aparência da coisa que se manifesta, depois passou a demonstrar apenas o objeto do conhecimento humano, portanto dentro dos limites do que o experimentador ou o observador consegue entender. Veja em detalhes o que explica Nicola Abbagnano em seu “Dicionário de Filosofia”, Martins Fontes, São Paulo, 1999, páginas 436 e 437. Este tipo de conceito já nos permite, sem qualquer constrangimento, notar que o Disco Voador é o tipo do fenômeno que não apenas passou pelas estradas do tempo, mas que ainda está parado no tempo. Na compreensão dos homens, continua sendo o que as pessoas pensam que ele seja, pela mera aparência conjugada com o entendimento subjetivo das testemunhas e dos ufólogos. No entanto pode ser, já que não tem seus contornos fenomênicos definidos, algo com o que nem sonhamos. Tudo o que é incompreendido, ou inexplicado, pode ser qualquer coisa. Inclusive “Nave Extraterrestre”, como fazem questão os crédulos condicionados por suposições culturais populares. Só que essa hipótese, que recebeu nos meios ufológicos a alcunha de “HET” (Hipótese Extra Terrestre), abandonado o excesso de exigência dos cientificistas, é apenas possível. Porque há uma enorme diferença entre o que seja possível e o que seja provável, mesmo que alguns não consigam compreender essa distância. Viagens espaciais são possíveis. O homem da Terra já experimentou e provou isto. Existir vida extraterrestre, e vida inteligente, é possível. Há vida em um planeta que batizamos de Terra. Mas é pouco provável, se formos condescendentes para não fazermos uma afirmação negativa arriscada, que viagens intergalácticas ou mesmo de outros mundos distantes da nossa Galáxia, até a Terra, sejam feitas. A existência de vida em outros planetas nos oferece maiores chances de ser provável, ainda mais agora com a muito singela oportunidade dada pela descoberta praticamente diária, de exoplanetas, os planetas fora do Sistema Solar. Contudo, se essa (ou essas) vidas são inteligentes, ao ponto de terem desenvolvido ciência e tecnologia capaz de lhes permitir empreenderem longas viagens pelo espaço, há um literal abismo negro de meras conjecturas. Eis um superficialíssimo resumo do que a Ciência hoje entende.
Então estamos
diante de dois fatores interessantes. Um deles é de que o UFO, sendo ou não
frutos de ilusão, de visões, de alucinações, de enganos com ocorrências pouco
comuns e notáveis para o leigo em certas áreas científicas, simples produtos de
componentes psicossociais que o construíram através dos tempos, UFO existe. O
difícil é tentar admitir isto com a pessoa livrando-se do condicionamento da
idéia de que, falou UFO, falou “nave extraterrestre”. Pessoas apartadas do
interesse pela Ufologia, cientistas, jornalistas, testemunhas e principalmente
também ufólogos, simplesmente se recusam a fazer tal separação, tornando assim
o disco voador um fenômeno que poderíamos dizer que indissociável. A ufologia
que hoje desponta de maneira muito acanhada, que tenta retomar o velho sonho de
ver o meio acadêmico levar o fenômeno a sério, parece lutar contra um gigante
invencível – a magnitude que ufólogos crédulos já deram à “hipótese sagrada” da
origem extraterrestre de algo físico, um aparelho de tecnologia inatingível, da
visita de seres “não humanos”, em seu profundo amor por encontrar termos e
neologismos que, de um lado, tentam disfarçar a ausência de aspecto científico;
e, por outro extremo, darem à Ufologia esse aspecto a qualquer custo, mesmo que
visivelmente criado por brincadeira de ciência. Pelo que Sagan consagrou – e
com total razão – a expressão preferida dos céticos ortodoxos, ou radicais,
menos semelhantes ao agnosticismo que o próprio Sagan adotava quanto à vida
extraterrestre. Chamar a Ufologia de pseudociência.
O outro fator é o
lado não explicado do fenômeno. Até agora. É o mais difícil de ser objeto de
reflexão. Que estatísticas, que estudos verdadeiramente científicos, já teriam
sido feitos, para demonstrar as evidências de que existam UFOs ainda não
explicados? Por mais que se procure, o encontro é penoso. E isto coincide
exatamente com o lado fugidio, furtivo, raríssimo, de um fenômeno que, ao menos
após esgotadas todas as probabilidades explicativas, é de um número a cada dia
menor. Ao contrário do que afirmam de forma descomprometida os que desejam ver
suas acepções acreditadas, através de afirmações e movimentos sociais
destinados a “provar” uma realidade ainda inefável. E assinam embaixo,
literalmente, procurando atestar algo totalmente desprovido de premissas
válidas, básicas, maiores.
Se as ocorrências,
conhecidas e ainda por vir, continuarem recebendo explicações plausíveis, a
maior parte aliás demonstrável, este que é um lado crédulo de poucos ufólogos,
que insistem na esperança de que haja algum fato raríssimo que possa comportar
uma causa ainda não considerada, tornar-se-á uma última e vã esperança. O mundo
particular da Ufologia deverá passar por um forte e dolorido processo de
recondicionamento, para se tornar um campo de estudos de comportamento
científico. Esta última
esperança, inspirada com o passar do tempo em vagos e esparsos casos, ainda
pode se dar ao luxo de adotar o conceito de Hinek, sobre o que seja um Óvni, em
seu "Ufologia uma Pesquisa Científica" (Nórdica, 1980, 34). Para que
um objeto voador seja não identificado, deve ser não identificado para todos e
não somente para a testemunha. Nem apenas para os ufólogos...
ROGÉRIO CHOLA
Para falar sobre o chamado “fenomeno ovni”, primeiro temos de relembrar o conceito do que é ciência. Desde o surgimento da espécie humana, esta se questiona, de alguma forma, sobre o que acontece ao seu redor, sempre buscando prever os acontecimentos para poder utilizá-los a seu favor. Com a evolução da espécie, o ser humano passou a questionar o porque da ocorrência destes acontecimentos, sempre procurando uma explicação racional e assim criando inúmeras teorias sem critério algum. Foi desta necessidade que surgiram as metodologias para a “produção” de teorias, sendo que o inglês Francis Bacon criou as primeiras “regras” baseadas na “experimentação” que funcionou muito bem até fins do século XIX. Depois foi o austríaco Karl Popper que introduziu o método da “razão” onde ficou estabelecido que a “experimentação” não deveria servir para elaborar hipóteses e sim para refutá-las. Para fazer uso destes métodos, a ciência utiliza evidências ou provas materiais para construir hipóteses de trabalho.
Isto posto, o que
ocorre é que existe um ponto frágil notável dentro do conjunto de evidências ou
provas apresentadas pela ufologia, pois parece não existir nenhuma forma de
realizar um experimento reproduzível que nos forneça informações confiáveis
sobre os OVNI’s. Isto ocorre porque este fenômeno estando alem do controle humano,
parece muito mais evasivo do que fenômenos meteorológicos que podem ser
observados de modo sistemático sob condições apropriadas.
Sendo assim, a
ufologia, um estudo (logia) criado pelos militares para estudar a manifestação
de objetos (aparentemente materiais) voadores (que conseguem se deslocar no
espaço aéreo) e não identificados (que permanecem sem identificação positiva
convencional), não pode ser considerada como uma ciência acadêmica. Entretanto,
todos os relatos, indícios e evidências obtidas até o momento, de fontes
consideradas confiáveis, demonstram que o Fenômeno OVNI pode ser estudado
objetiva e racionalmente com a atual metodologia e tecnologia científica,
contudo, sem pré-julgar a sua natureza.
O problema é que
existe um círculo vicioso tanto na ciência acadêmica como dentro da ufologia:
primeiro que o cientista, quando se depara com este fenômeno, pode sofrer do
chamado “mito da neutralidade científica”, como bem escreveu Hilton Japiassu,
tendendo a seguir o “modismo” científico do momento e justamente por causa de
um mal-entendido criado no início da chamada “era moderna da ufologia”
(ufologia civil), aonde a mídia em geral e a maioria dos ufologistas, acredita
que o termo OVNI seja sinônimo de atividades de “inteligências extraterrestres”
e como não existe prova ou evidências concretas disto, muitos cientistas se
afastam tanto do estudo como das pessoas que o fazem. A equação para entender
isto é muito simples, pois sendo OVNI (erroneamente) sinônimo de “inteligência
extraterrestre” e esta não tendo sido de alguma forma comprovada ainda a
conclusão (absurda) é de que OVNI´s não existem! Por outro lado, os ufologistas
jamais fizeram realmente ciência em ufologia. Existem cientistas que estudam
ufologia, porem, existem poucos ufologistas que possuem conhecimento científico
suficiente para empreender tal tarefa. E por fim, o principal problema da
ufologia são os próprios ufólogos! São eles os responsáveis por perpetuar os
paradigmas de que OVNI é o mesmo que “nave extraterrestre”!
KENTARO MORI
O fenômeno OVNI é uma decepção. Há muito mais entre o céu e a terra do que
sonhamos, é bem verdade, mas entre todas essas infinitas possibilidades, o que
mais de meio século de buscas e uma profusão incrível de registros demonstra é
que um sonho em particular, o de que naves alienígenas trafegariam comumente
pelos céus e a ufologia descortinaria tal, simplesmente não corresponde à
realidade.
Provar uma
negativa é impossível, e é por certo possível que civilizações alienígenas nos
visitem, é mesmo provável que já tenham nos visitado. Mas o sonho adolescente
de fazer vigílias, analisar fotos, testemunhos, coletar amostras e flagrar
espaçonaves é demolido dia a dia em que os registros do céu se tornam cada vez
mais onipresentes e as provas conclusivas todavia ainda continuam tão ou mais
distantes quanto sempre estiveram. Muitos ainda
alimentam este sonho, sinceramente, o que é fabuloso porque um dia ele ainda
pode se concretizar, ainda que a ufologia não pareça ser bem o melhor caminho
para tal. Enquanto ufólogos continuam fazendo o mesmo que faziam há meio
século, cientistas estendem suas buscas por vida extraterrestre inteligente
para além de sinais de rádio, aos sinais óticos, e encontram mais e mais
indícios do mais básico: da vida extraterrestre, ainda que elementar. É
praticamente certo que ainda veremos esta prova ser anunciada, talvez neste
mesmo ano, quem sabe no próximo. É assim que a ciência funciona, formula
hipóteses, submete-as a testes, reformula hipóteses, constrói conhecimento que
pode ser demonstrado e compartilhado. A ufologia
infelizmente não funcionou assim. Talvez porque nos faltem as ferramentas, mas
se este fosse o caso, ferramentas de observação do céu são seguramente o que
não têm faltado nos últimos anos. E os discos voadores continuam não chegando.
Se a ufologia não funcionou, é preciso considerar a possibilidade de que seja
porque a hipótese extraterrestre não esteja correta, e precise ser revista.
Alguns ainda
exploram este sonho e vendem falsas promessas e esperanças. Vendem o sonho como
realidade, sem passar pelas provas. Pois destes, é preciso exigir que comprovem
o que alegam ter como comprovado: nunca o fazem, pelo contrário, quando
intimados a fazê-lo, simplesmente fogem. Transformam o sonho em ilusão, quando
não em enganação. Não basta aceitar o sonho como realidade sem ter como
compartilhar esta constatação de forma objetiva, um sonho que se vive sozinho é
alucinação. Sabemos que, ao
contrário de alucinações como duendes e unicórnios, civilizações alienígenas
podem ser bem reais. Sabemos que podem nos visitar. Faltam-nos as provas. A
ufologia e a hipótese extraterrestre ofereciam um sonho, mas não trouxeram as
provas. A todos os sonhadores com os pés no chão, o fenômeno OVNI é
melancolicamente uma grande decepção.
JAIME ROITMAN
Uma declaração de
amor à Ufologia
Depois de ler o livro A Desconstrução De Um Mito o leitor não vai mais enxergar a ufologia com os mesmos olhos. De autoria de Ubirajara Rodrigues e Carlos Reis, ufólogos com décadas de experiência e respeitadíssimos dentro e fora da comunidade de pesquisadores de Objetos Voadores Não Identificados - Óvnis ou UFos. Trata-se de obra com característica inédita, analisando com rigor a história da ufologia desde seu surgimento, os principais fenômenos brasileiros e mundiais, assim como as evidências e conclusões dos ufólogos. Deixando muito claro a diferença fundamental entre UFO e Disco voador. Um livro singular que pode ser um divisor de águas. Analisa os fatos à luz da razão e deixa que o leitor chegue às próprias conclusões.
A leitura desta
obra foi muito prazerosa e também catártica, os autores também escrevem que
compor o livro foi uma catarse. Comecei a ler e só parei por conta de
compromissos externos, retomando rapidamente a leitura em qualquer
"brecha" da agenda. É um daqueles raros livros que ao iniciar não se
consegue parar. Não é à toa que os autores fazem parte da categoria de ufólogos
com boa bagagem cultural. Exatamente por essa erudição a proposta do livro
ancora-se na psicologia, antropologia, sociologia, neurociências e psiquiatria.
Argumentos, análises e propostas baseiam-se em pesquisadores como: Joseph
Campbell, Carl Sagan, Claude Lévi-Strauss, Freud, Lacan, Jung, Mircea Eliade,
Noam Chomsky, Marilena Chauí e Claude Lévi-Strauss. Quem diria que alguns
desses autores poderiam, um dia, colaborar na compreensão dos caminhos e
descaminhos da ufologia ? Pois colaboram sim e de forma bem pertinente. Difícil encontrar
uma categoria de pessoas a quem não recomendar esse livro. A leitura da obra é
obrigatória para os pesquisadores da área, os ufólogos. Serve como bússola para
quem não é pesquisador mas tem interesse ou é apaixonado pelo tema. Mesmo para
quem não não tem interesse ou nunca leu especificamente sobre ufologia, o livro
será útil, na medida em que descreve de maneira fácil de compreender a
metodologia sugerida para a pesquisa ufológica e suas distorções. Afinal, é
praticamente impossível não ter tido contato com informações sobre o fenômeno
Ufo seja através da imprensa escrita, rádio ou TV. Lembrando ainda o cinema e a
literatura de ficção científica. Os meios de comunicação e sua relação com a
ufologia são abordados de maneira ampla no livro, inclusive na análise do que é
considerado o evento mais importante da ufologia brasileira - O Caso Varginha -
conhecido popularmente como ET de Varginha. É bom lembrar que um dos autores
Ubirajara Rodrigues foi o primeiro a pesquisar o evento e é considerado por
muitos, o mais importante pesquisador do caso. Foi autor do livro O Caso
Varginha, que até hoje gera polêmicas.
Tive oportunidade
de estar presente no estúdio da rádio CBN em Campinas ao debate entre Ubirajara
e o médico legista Badan Palhares. Referências ao debate constam neste livro
mais recente. Já soube de muitas afirmações diferentes e até contraditórias a
respeito da opinião de Ubirajara sobre presença extraterrestre no Caso
Varginha. Teria redigido documento afirmando a presença de Entidade Biológica
Extraterretre (EBE), que tem filmagens não divulgadas com testemunhas militares
( isso parece que é verdade), que recebeu pressões para distorcer fatos, que
teriam oferecido a oportunidade de assistir filmes com ET de Varginha em troca
dele silenciar sobre isso, enfim uma infinidade de teorias conspiratórias. A
ufologia é prato cheio para teorias conspiratória e argumentos de autoridade,
isso é tratado exaustivamente no livro. Pois bem, o livro nos brinda também com
Ubirajara colocando em pratos limpos sua opinião, de maneira ine quívoca e
definitiva.
O livro traça
panorama abrangente do universo de crenças e carências humanas que orbitam ao
redor do fenômeno Ufo e dele necessitam ou tiram proveito. Deuses substituídos
por discos voadores. Seitas ufológicas que se propagam aqui e no exterior.
Gurus ufológicos não foram esquecidos. Desde os tupiniquins como Urandir
Fernandes de Oliveira do projeto portal, Carlos Paz Wells do projeto rama
(amar), Thomaz Green Morton - O homem do Rá em cujo desmascaramento no programa
Fantástico, Ubirajara e eu participamos. Dos estrangeiros, a análise do
movimento Raeliano é destaque. A fenomenologia
ufológica é comentada e analisada globalmente. Desde o relato do fenômeno que
deu origem a ufologia até o impacto da internet nas pesquisas e nos ufólogos.
Ponto fundamental do livro é a visão sobre a relevância dos relatos de
testemunhas de eventos ufológicos e dos alegados contatados. O livro dá
destaque ao Caso Roswel, Rods, Echelon, ufoarqueologia, Flotilhas Mexicanas,
São Thomé das Letras, Triangulo das Bermudas, Círculos Ingleses (Crop Circles)
e outros. Estamos diante de um compêndio crítico de ufologia. Pela primeira vez
de modo abrangente, a visão crítica surge à partir de ¨gente de dentro¨. Isso
permite um outro brinde do livro, que são os ¨causos¨ dos bastidores da
comunidade ufológica. Quando se trata de
texto sobre ufologia é comum a pergunta: o autor acredita em disco voador ou
nega sua existência ? Como responder essa pergunta com relação ao livro A
Desconstrução De Um Mito ? Fácil. Uma frase de Diderot abre um dos capítulos do
livro: ¨ Erra tanto quem duvida demais, como quem acredita em excesso ¨. É por
essa vertente que os autores caminham. Mas que não confunda-se isso com postura
tolerante e conciliatória com certos desvios da ufologia. Os autores são
rigorosos e chegam a ser ácidos com aqueles que usam o fenômeno ufológico para
seu próprio proveito ; desvirtuando-o para confirmar suas crenças ou outras
necessidades pessoais. Assim como um dia Lacan defendeu o retorno a Freud para
sanar os desvios e equívocos de correntes psicanalíticas, os autores propõe
analisar os desvios e equívocos da ufologia, é uma grande chance para a
ufologia acertar seu rumo. Alertam para a necessidade da ufologia repens ar sua
prática e conclusões. Em resumo, a esperança é que a ufologia valorize mais a
pintura ( o que tem de realidade no fenômeno ufológico ) do que a moldura(o
viés do pesquisador) do ufólogo. Na minha opinião
os autores escreveram um livro instigante, interessante, polêmico e
principalmente oportuno. Oportuno em dois sentidos, de necessidade de algo
assim neste momento e oportuno por ser uma grande oportunidade de se repensar a
ufologia e fazer dela um ramo mais respeitável do conhecimento, inclusive
acadêmico. Ubirajara e Reis são atualmente mais ufólogos do que nunca. Sua obra
é um pedido e um ato de respeito à ufologia. Na verdade é uma declaração de amor.
PAUL KIMBALL
O mito da hipótese
extraterrestre como fato
Paul Kimball é um ufólogo e cineasta canadense. Escreve em “The Other Side of Truth”. Esta tradução de sua coluna publicada originalmente em Alien Worlds foi gentilmente autorizada, e é oferecida em favor de um ceticismo aberto (http://www.ceticismoaberto.com/ufologia/1814/o-mito-da-hiptese-extraterrestre-como-fato) que possa ecoar entre aqueles que defendam a hipótese extraterrestre.
De todas as
teorias não-terrestres propostas para explicar o fenômeno OVNI, a hipótese
extraterrestre (HET) sempre me pareceu a mais plausível. Eu não penso que tenha
sido provada, mas acredito que é uma aposta melhor que outras sugeridas quando
se olha para a evidência e a ciência.
A evidência parece
indicar que pelo menos alguns casos OVNI representam uma inteligência
não-humano em ação. A ciência nos diz agora que há quase certamente outros
seres inteligentes na galáxia, e se eles forem mais avançados que nós, há uma
chance razoavelmente boa de que eles possam chegar até aqui.
Porém, é crítico
lembrar que a letra fundamental em HET é o "H" – ainda é apenas uma
hipótese, e qualquer um que lhe diga que possa provar que alienígenas têm
visitado a Terra além de dúvida razoável, ou até mesmo no saldo de probabilidades,
está colocando a carroça bem na frente dos bois.
Além disso, porém,
penso que o maior problema com os partidários da HET dentro da ufologia é que
eles são tão… "limitados" em sua perspectiva. Estão convencidos de
que aliens visitaram a Terra, e em muitos casos acreditam que eles ainda estão
visitando Terra e interagindo com humanos de todos os modos, alguns bons e
outros ruins. Eles são da escola de pensamento “feijão com arroz”, i.e. o
senhor Zé ET cruzou o espaço em direção à Terra em um disco voador, de forma
muito similar à qual Capitão Kirk e todos nossos outros ícones de ficção
científica fazem cruzando a galáxia. Isto é o que eu
chamo ufologia "Keyhoe-iana", porque está baseada diretamente nos
pensamentos que o major Donald Keyhoe sugeriu inicialmente nos anos 1950. Está
antiquado, e terrivelmente distante da ciência moderna. Presume que
extraterrestres estão apenas algumas décadas, ou talvez cem ou duzentos anos
mais avançados que nós, o que é altamente improvável. Presume que os ETs estão
preocupados conosco, e que nós somos de alguma maneira importantes a eles, o
que também é altamente improvável. Em resumo, é um ponto de vista que está
baseado no que pessoas que cresceram nos primórdios da ficção científica e
corrida espacial esperavam de seus alienígenas, e não no ponto de vista que os
físicos e astrobiólogos modernos adotam. As pessoas que
defendem a HET como fato, como Keyhoe e seus sucessores, o mais proeminente dos
quais é o físico de discos voadores, Stanton Friedman, são uma relíquia de uma
época e lugar diferentes, o que é irônico quando se considera que estas pessoas
comumente criticam os cientistas por não manterem a mente aberta sobre o
fenômeno OVNI e por estarem presos ao passado.
Se extraterrestres
estão aqui, é provável que sejam mais avançados que nós, a uma ordem de
milhares de anos, não centenas. Nós seríamos a eles como formigas são a nós –
abaixo de sua atenção. Isto poderia explicar bem a estranheza inerente de
muitos avistamentos de OVNIs – coisas que parecem a nós como mágica, ou algo
que em uma era diferente teria sido moldada em termos religiosos. Como o físico
Michio Kaku notou, bem pode haver uma conversação galáctica em andamento, mas
em um "idioma" que nós estamos a milhares de anos de poder
verdadeiramente compreender. Claro que,
ufólogos do Fato extraterrestre seriam rápidos em apontar que há alguns humanos
que estudam formigas – entomologistas, o que é bem verdade. Mas para eles eu
tenho a seguinte pergunta: Quantos entomologistas passam 60 anos – ou muito
mais tempo, se você for um defensor da noção de que ETs têm vindo aqui durante
séculos – estudando o mesmo exato monte de formigas?
Essa idéia me
parece ridícula. É uma tentativa desesperada de ajustar forçadamente nosso
próprio modo de pensar sobre formas de vida potenciais que seriam muito mais
avançadas que nós – e eles teriam que ser muito mais avançados para chegar aqui
(ignore o que alguém como Friedman tentará lhe dizer sobre como é relativamente
fácil chegar a nossos vizinhos galácticos locais, se apenas tentássemos mais e
gastássemos mais dinheiro). Novamente, eu não
estou dizendo que a HET não é uma boa hipótese… em verdade, como notei antes,
penso que é a mais plausível entre as várias hipóteses paranormais em oferta. É
a alegação por ufólogos feijão com arroz como Friedman e Keyhoe – e charlatães
como Billy Meier – de que os extraterrestres estão atravessando o espaço a bordo
de discos voadores e agindo como nós faríamos, com a qual eu discordo porque
essa alegação é muito mais ficção científica do que fato científico. Defensores do Fato
extraterrestre como Friedman e Keyhoe, que tentam nos convencer de que
extraterrestres são basicamente como nós, não são nada diferentes de
fundamentalistas religiosos que retratam Deus como um senhor anglo-saxão de
cabelos brancos. Tais retratos lhe contam muito sobre as pessoas que defendem
essas imagens e crenças, mas absolutamente nada sobre a possível entidade ou
entidades em discussão. Os defensores do Fato extraterrestre são
fundamentalistas dos discos voadores e de seu próprio modo fizeram tanto dano
ao estudo científico sério do fenômeno OVNI quanto pessoas como o Dr. Edward
Condon, Dr. Donald Menzel, ou Philip J. Klass. Focalizando na ideia de que pequenos homenzinhos verdes / cinzentos têm vindo aqui em discos
voadores, promotores do Fato ET prestaram um grave desserviço à busca pela
verdade sobre o fenômeno OVNI e suas possíveis origens alienígenas, da mesma
forma que milhares de anos de líderes religiosos têm minado a procura pela
verdadeira natureza de Deus ao forçá-la em um paradigma limitado que
simplesmente serviu para reforçar sua própria visão de mundo. Eles não buscaram
sabedoria nem compreensão – eles proclamaram uma "resposta" que não
tem respondido a nada. A abordagem
reducionista adotada pelos promotores do Fato ET, que busca ver a potencial
vida extraterrestre à nossa própria imagem, é limitada em sua visão. Está mais
preocupada com o que eles vêem como o destino, e sua necessidade de chegar até
ele agora, quando o que nós deveríamos estar focalizando é a jornada e as
maravilhas que podemos descobrir no caminho. Este é o verdadeiro sinal em tudo
disto. Todo o resto é apenas ruído.
A pior coisa sobre
tudo isto, porém, é a hipocrisia que você encontra em muitos dos membros
supostamente mais sérios do “grupo do Fato Extraterrestre”. Eles estão
convencidos de que alienígenas estão aqui e interagindo com a humanidade, mas
são críticos contundentes da “exopolítica”, que simplesmente leva o
posicionamento do Fato Extraterrestre até a sua conclusão lógica.
Exopolítica, de
acordo com o Dr. Michael Salla, um de seus proponentes mais conhecidos, é: “o
estudo dos indivíduos, instituições políticas e processos fundamentais
associados com a vida extraterrestre… a exopolítica se concentra nas
implicações políticas de uma presença extraterrestre conhecida por entidades
quasi-governamentais clandestinas que mantêm o conhecimento da presença em segredo
do público geral, funcionários políticos eleitos e até mesmo oficiais militares
sêniors. A evidência que apóia [estas afirmações] é maciça em extensão e mostra
que a tomada de decisão é restrita a uma base limitada a aqueles que ‘precisam
saber’”.
Tire a palavra
"exopolítica" da equação e isso parece algo que Friedman diria.
Realmente, se você ouvir Friedman falar tantas vezes quanto eu o fiz, notará a
semelhança nos temas principais – alienígenas estão aqui, o governo está
encobrindo o conhecimento desse fato e nós, o povo, temos o direito de saber a
verdade. Em seu website, Salla em seus "cursos de exopol" usa mesmo o
lema "preparando-nos para nossa graduação cósmica", o que ecoa
diretamente o mantra de décadas de Friedman de que talvez algum dia estaremos
prontos para nos qualificarmos para o jardim de infância cósmico. A maior objeção de
Friedman à exopolítica, pelo menos em público, parece ser o fato de que eles
não são terrivelmente exigentes para vetar suas supostas testemunhas e
denunciantes. Nesse respeito, ele tem bastante razão. Porém, como mais de um
exopol me apontou, Friedman tem uma história de promover suas próprias
testemunhas muito duvidosas (Gerald Anderson vem à mente de pronto, seguido de
perto por Glenn Dennis), e casos (Aztec, Flatwoods, guerras aéreas de discos
voadores nos anos cinqüenta, talvez mesmo Roswell).
Francamente,
enquanto eu discordo com a própria premissa que fundamenta o sistema de crenças
da exopolítica (de que pelo menos alguns OVNIs foram provados como sendo espaçonaves
extraterrestres), quanto mais penso nisto, mais acho que os exopols são mais
intelectualmente honestos que pessoas como Friedman que concordam com eles em
termos gerais, mas fazem pouco ou nada para tentar conduzir a uma mudança
política de fato. Os exopols estão certos – se você acredita que aliens estão
aqui e o governo está encobrindo isto, então este é um assunto político da mais
alta ordem e não mais um tema científico.
Friedman é o
Poderoso Chefão de fato da Exopolítica – em grande parte, ele criou a
"família" que é o Fato Extraterrestre moderno, a ufologia do
"Watergate Cósmico", mas como Vito Corleone, ele é incapaz de tomar o
que ele criou e levá-lo a sua próxima fase lógica. Realmente, como o Don, é uma
fase com a qual ele não quer nenhuma relação, até mesmo enquanto outros ao
redor dele, que ele inspirou, reconheçam as implicações lógicas e inevitáveis
do que ele tem dito todos estes anos e estejam preparados para agir a respeito,
não importe o quanto ele proteste.
Porém, o
verdadeiro escândalo é que Friedman, como outros defensores do Fato
Extraterrestre, emprega dois pesos e duas medidas sem absolutamente nenhum
senso de ironia quando se encontram com pessoas que questionam sua posição.
Qualquer um que favoreçam que seja sujeitado a um exame crítico é vítima de
“assassinato de caráter”, enquanto as pessoas de quem eles não gostam, ou que
não apóiam, como Bob Lazar, ou Philip Corso, ou até mesmo o Dr. J. Allen Hynek,
podem ser atacados (no universo de Friedman, Hynek é "um ufólogo apologista").
Quando você menciona o Dr. Jacques Vallee a eles, eles se desesperam ainda mais
em seus ataques. Qualquer coisa que ameaça arruinar o sistema de crenças que
construíram resulta no equivalente ufológico da Inquisição espanhola.
Pessoas que buscam
uma abordagem realmente científica ao fenômeno OVNI, do tipo que foi promovida
durante anos por Hynek, Vallee e Dr. James McDonald, deveriam olhar em outro
lugar. Por quê? Porque Hynek, McDonald e Vallee nos deixaram com miríade de
investigações de caso, novas teorias e formas de olhar para o fenômeno OVNI,
sistemas de classificação de avistamentos e outros legados importantes. Até
mesmo pessoas como o antigo colega de classe de Friedman, o Dr. Carl Sagan, nos
deixaram com um senso de fascinação sobre o prospecto de vida de ET, embora ele
não fosse nenhum proponente da HET. No outro lado, os defensores do Fato
Extraterrestre nos deixaram com Roswell, MJ-12, Aztec, contos de grandes
guerras de discos voadores entre a USAF e OVNIs, e outras histórias que pertencem
a uma antologia de ficção científica, não a uma discussão séria do que o
fenômeno OVNI poderia ou não representar. O lamentável é que
alguém como Friedman poderia ter feito tanto mais – se ele apenas, como tantos
outros de seus companheiros no fato extraterrestre, não tivesse deixado seu
desejo de acreditar subjugar suas faculdades críticas. As pessoas que querem o
evangelho antigo de discos voadores / conspiração se sentirão em casa com eles,
porque o que eles oferecem é confortável e fornece um senso de continuidade e
familiaridade, e mesmo fraternidade. Porém, o que não oferece é uma busca
honesta pela verdade sobre o fenômeno OVNI. Nunca ofereceu.
CLAUDEIR COVO
Discos Voadores
Existem?
Eu acredito que
existe um Fenômeno (1% dos casos) que nós Ufólogos ainda não consegue
explicar, nem as Forças Armadas e nem os cientistas.
O Fenômeno é Real,
mas não sabemos a sua origem.
Menos de 10 anos
atrás mal sabíamos o que era RED SPRITES e BLUE JETS.
Hoje a Ciência tem todos os detalhes explicando o que são. Fenômenos bem
TERRESTRES. Esse 1% que ainda
não pode ser explicado, pode a qualquer instante ser descoberto pela
Ciência. As distâncias
astronômicas, ainda hoje, são inviáveis para viagens tripuladas. Mal
chegamos à Lua. Com naves não tripuladas conseguimos atingir apenas os planetas
do nosso Sistema Solar.
A estrela mais
próxima do nosso Sistema Solar é a Alfa do Centauro, distante 4,3 anos-luz. Sondas que já deixaram
o nosso Sistema Solar, como a Voyager 1, a Voyager 2, a Pioneer 10 e
a Pioneer 11, viajando aproximadamente 43.000 Km/h, caso estivesse rumo à
Alfa do Centauro, chegaria lá em 93.000 anos. Seriam gerações e gerações dentro
de uma nave. Acredito na
existência de seres Extraterrestre, inteligentes ou não, mas eles, COM CERTEZA,
têm o mesmo DRAMA (grau de dificuldade) que nós temos. Assim, com o
conhecimento científico que temos, JAMAIS PODEMOS AFIRMAR CIENTIFICAMENTE QUE
EXTRATERRESTRES estejam nos visitando. Muitos falam em
"buracos de minhoca", mas pelo nosso conhecimento, ainda é apenas uma
teoria. Nada comprovado na prática.
CARLOS ALBERTO
REIS
A possibilidade de
vida extraterrestre é real, sem dúvida, e só. A possibilidade de vida
“inteligente” é outra questão, muito diferente. Não podemos esquecer que tudo o
que fazemos e pensamos tem por “padrão” conceitos exclusivamente humanos, e
qualquer coisa fora disso deixa de ser humano. Parece óbvio, e é, mas quando
falamos em “inteligência extraterrestre”, estamos falando bobagens. Por quê?
As baleias e os
golfinhos, por exemplo, são considerados “inteligentes” por que? Porque nós
“achamos” que eles são inteligentes só porque fazem as coisas que mandamos
fazer? Isso é condicionamento. As baleias “cantam” e têm um comportamento
que sugere inteligência, mas se você pensar bem, todos os
animais agem de acordo com a sua “inteligência”. O nosso conceito de inteligência
é muito provinciano, já dizia Hynek. Então, o que nos leva a pensar que exista
algum tipo de inteligência extraterrestre se nem sabemos ao certo o que é
inteligência?
Além disso vamos
supor que exista uma civilização “inteligente” o suficiente para enviar sinais
de... de quê? De rádio? Por que de rádio? Quem disse que o “rádio” é uma coisa
universal? E se forem evoluídas, o serão milhares, certamente milhões de anos à
nossa frente, e ainda que com boa vontade pensemos em “rádio”, com certeza já estariam
em outro patamar de comunicação... SE existirem. Até eu, neste momento, acabo
caindo na armadilha de pensar “humanamente”. Voltando ao exemplo das baleias, -
se são inteligentes e se “comunicam” - pensamos que se comunicam, será
mesmo? Não estariam simplesmente cantando? O canário do meu vizinho canta
todos os dias, o tempo todo... está se “comunicando” com outros
canários?? E se estiver, como saberemos se não temos um “decodificador de
canto de canário” ?
NÃO TEMOS COMO
SABER SE EXISTEM CIVILIZAÇÕES INTELIGENTES NO COSMOS, E SE HOUVER, JAMAIS
SABEREMOS, PORQUE ESTAREMOS USANDO LINGUAGENS DIFERENTES. ESTAREMOS SEMPRE
CONSTRUINDO NOSSOS CONCEITOS DENTRO DO PADRÃO HUMANO - E NEM PODERIA SER
DIFERENTE. Porém, existem muitas outras questões dentro das ciências
planetárias que inviabilizam não só as visitas como também a vida inteligente
extraterrestre como a conhecemos.
CARLOS
ALBERTO REIS
Poderia
a Mitologia explicar o fenômeno Óvni?
Uma
reflexão a caminho
A
Mitologia pode explicar o fenômeno Óvni? Essa é uma daquelas questões que
demandam duas respostas aparentemente antagônica: sim, pode. Não,
não pode explicar. Para entender porque elas não se excluem mutuamente,
precisamos primeiro fazer um curto sobrevôo nas terras da mitologia para
conhecer suas dimensões continentais, uma área tão vasta quanto a da nossa
própria existência. Essa geografia representa a condição humana com todas as
suas nuances, inquietações, medos, virtudes, humores, limitações e
aprendizados. Sintetizando numa única frase, podemos afirmar que os mitos são
narrativas de significação simbólica referentes a aspectos da natureza humana. Mas
um elenco de grandes autores nos oferece outras definições. Rubem Alves, por
exemplo, diz que Os mitos são histórias que delimitam os contornos
de uma grande ausência que mora em nós. [Joseph] Campbell vai além, postulando que não se
trata exatamente de buscar um sentido para a vida, e sim o da experiência de
estar vivo, de forma tão profunda que ressoa bem no íntimo de nossa alma e nos
mostra a beleza dessa existência. Já para outro nome de peso, Mircea Eliade, referência
mundial em estudos de mitologia, O mito é sempre uma criação por excelência, e
revela a sacralidade do sobrenatural – a irrupção do sagrado no mundo, o
acontecimento primordial.
Muitos outros enriqueceriam indefinidamente os conceitos sobre os mitos. Ao
estudarmos sua cartografia, saltam aos olhos palavras-chave que expressam essa
realidade: ausência, nostalgia, saudade, vazio, desejo, carência, uma eterna
insatisfação, uma busca interminável, uma necessidade de algo inexprimível à
razão, uma vã tentativa de voltar às raízes. Pode ser a busca de nossas origens
ou da origem de tudo. Pode ser a procura de um conhecimento ou de um acontecimento, ou pode ser tudo isso. Os
mitos são a ressonância destes anseios permanentemente ocultos na mente humana,
de onde se produzem, por idêntico processo, os sonhos, as fantasias, os
devaneios, a arte e a religião – formas substitutivas cuja finalidade é
dissimular as verdadeiras moções pulsionais estruturantes do ser humano.
O
que se conclui sobre os mitos é que eles foram criados para dar sentido e
direção à vida do homem; não são uma invenção gratuita, não nascem da
imaginação desenfreada ou de um capricho dos deuses, nem constituem forma de
pensamento pré-científico. Eles são a expressão simbólica de forças vivas e atuantes
que trabalham nos subterrâneos da psique. E isso é apenas o começo, mas nosso
combustível, neste momento, não permite alcançar as fronteiras – se é que
existem, porque sempre haverá um metro a mais de terra a ser explorada. O
sobrevôo seria curto, alertamos. Antes de pousar, entretanto, é possível notar
que existem tênues variações delimitadas nesse terreno, indicando outros tipos
de lavoura. Vejamos do que se trata.
O
leitor com espírito aberto e olhos atentos às entrelinhas já terá percebido que
as falas da mitologia reverberam nos campos da ufologia – campos férteis em
imaginação, fantasia e fabulação, provocando ecos que não se perdem no vazio,
ao contrário. Além de olhos apurados é preciso saber ouvir o que tais ecos querem nos
dizer: busca incansável? Retorno às origens? Vazio? Carência? Irrupção do
sobrenatural no mundo? Uma rápida vista d´olhos no circo ufológico e lá está
tudo isso. Sim, goste-se ou não, reconheça-se ou não, a mitologia pode explicar
a ufologia. Em parte. Não pode explicá-la sozinha, e somente assentados em solo
firme é que identificamos aquelas outras lavouras: antropologia, religião,
filosofia, história, psicanálise, sociologia, compondo um instigante e
enriquecedor mosaico transdisciplinar. É
aqui que começa a verdadeira pesquisa. É aqui que se dão as maiores
descobertas. É aqui que o homem se mostra como realmente é, e não como imagina
ser. Todos os nossos medos, todas as nossas inquietudes, todas as nossas
necessidades, desejos e frustrações estão desveladas através das narrativas
míticas e igualmente expostas nas narrativas ufológicas. Goste-se ou não,
reconheça-se ou não.
A
ufologia, por sua vez, social e culturalmente nascida num momento histórico
transformador da humanidade (não por acaso), se conduz por um fluxo descontínuo
de narrativas baseadas em eventos duvidosos, obscuros e não comprováveis, não
contemplando, portanto, os requisitos básicos da pesquisa científica: rigor,
estrutura, critério e método. Mas não é só por este viés que ela comete seus
piores delitos e nem é nossa intenção trilhar este caminho. Ao se colocar
ciência e crença na balança da verdade, uma coisa não pode ser refutada: o
ponteiro se inclina sempre sob o peso da argumentação responsável, da
autoridade reconhecida, da experiência respeitada e da evidência consolidada. Assim
como a mitologia se serve daqueles campos para explicar o objeto de seus
estudos, a ufologia não só imprescinde deles como agrega, ao seu latifúndio,
além da própria mitologia, ficção, astrobiologia, psicologia e outros tantos
quantos forem necessários. O ritmo vertiginoso sem tréguas das mudanças do
mundo, aliado ao volume ciclônico de informações exige atualização permanente.
Os ventos dessas transformações sopram céleres, fazendo a curva do aprendizado
crescer exponencial e cumulativamente. Com o advento da internet e da
comunicação digital, assiste-se a uma revolução em escala planetária sem
precedentes, por isso nada justifica mais uma atitude tão anacrônica de
ingenuidade, credulidade fácil e ilusão, ainda mais quando se constata um
movimento sinérgico, progressivo e global na revisão historiográfica corretiva
dos fatos. A ufologia não está fora desse quadro.
Mesmo
concordando com Vallée – Quanto mais luz projetarmos sobre o fenômeno, mais
zonas de sombra estaremos criando, preferimos adotar um espírito
mais arrojado e atender a um antigo desejo de Campbell: Até onde sei,
ninguém tentou ainda configurar em um único quadro as novas perspectivas que
abrimos nos campos do simbolismo comparado, religião, mitologia e filosofia, utilizando-se
do conhecimento moderno. Ao encontrarmos paralelos e semelhanças
indiscutíveis entre os mitos e o fenômeno Óvni na origem, estrutura, forma,
estética, simbolismo e expressão, demos vida ao sonho de Campbell, abrindo
novas possibilidades. E quitamos uma dívida conosco e com a Ufologia que
prezamos.
Empreendemos,
então, a tarefa de executar um amplo estudo comparativo entre ambos em Reflexões sobre
uma Mitopoética (LivroPronto, 150 págs), obra a ser lançada
brevemente. A abordagem sintética não compromete o apuro da análise, até porque
vem norteada por nomes de primeira grandeza no cenário acadêmico e literário;
além dos já citados, Zygmunt Bauman, Ernst Cassirer, Lévi-Strauss, Jung,
Gilbert Durand, Lacan, os brasileiros Marilena Chauí, Régis de Morais, Antonio
Novaski, Constança César e muitos outros emprestaram seus saberes,
proporcionando um exame multifacetado e multiplicador. Nosso objetivo, enfim,
foi inspirado em Antonio Cândido, um dos mais respeitados críticos literários
da atualidade (parafraseado): Fecundar o ensaio acadêmico com a especificidade da
narrativa ufológica e, ao mesmo tempo, enriquecer a visão crítica dos fatos
através da formação universitária.
CARLOS ALBERTO REIS
As sombras do
não-espaço - I
EXCLUSIVO
PARA A SOCEX
Ao
iniciarmos a discussão sobre o conceito de vida extraterrestre inteligente,
ponto de partida para a crença na origem dos discos voadores e seres
alienígenas, topamos com três questões ao mesmo tempo difíceis de serem
respondidas: vida, extraterrestre e inteligente. Em
relação a vida, será que tudo o que sabemos sobre a sua origem na
Terra nos dá a certeza de estarmos no caminho certo? Presumimos que sim. A
ciência faz o possível e o impossível para certificar-se de que suas teorias
são as mais próximas da verdade, mas ainda pairam incontáveis dúvidas a
respeito de tudo, e as especulações (de speculum – observar,
refletir) não terminam.
Quanto
à vida extraterrestre, não passa de suposição, pois não há nenhuma
comprovação científica para o fato. O espaço é permanentemente vigiado por
“olhos e ouvidos” atentos ao menor sinal que indique companhia para o baile
cósmico. Até o momento em que estas linhas foram escritas, o silêncio é
absoluto e parece que isso não irá mudar. A capacidade tecnológica do homo
sapiens é indiscutível e irrefreável, mas, paradoxalmente, temos que
conviver com a ignorância em outros campos. A descoberta recente de uma forma
de vida surpreendentemente incomum como a bactéria GFAJ-1[1] revelou aspectos interessantes: a
vida oferece variações impensadas para a sua adaptação em ambiente adverso, e
sinaliza, apenas sinaliza a possibilidade de que a vida tenha
proliferado espaço afora, ainda que na esfera dos microorganismos.
Em
terceiro lugar, o “problema” da inteligência é o mais
complexo. O tempo a ser decorrido entre aqueles prováveis organismos
unicelulares e a mais elementar forma de vida inteligente se estende em torno
de 500 milhões de anos. Não vamos mergulhar no universo das neurociências para
compreender o mecanismo da inteligência, pois o que nos traz aqui são os
processos mentais que devemos utilizar para pensar sobre o “não-humano”, o
extraterrestre.
A
questão é como ordenar tais processos sem recorrer aos
padrões, valores, parâmetros e princípios humanos? Impossível? Absurdo? Se
estamos falando de algo não terrestre e queremos entender como é possível que
exista esse algo, precisamos abandonar todos os condicionamentos intelectuais
que norteiam nosso saber. Se realmente a vida for uma anomalia terrestre, um
acidente, uma singularidade, então qualquer outra vida, inteligente ou
não, é uma quimera, decretando o fim dos devaneios ufológicos. No entanto,
se imaginarmos que haja uma única civilização avançada o suficiente e perto o
bastante a navegar pelo cosmos, então podemos prosseguir na divagação Se a
existência dessa única civilização já seria algo extraordinário, imagine dezenas espalhadas
por aí como defendem os ufólogos.
A
partir dessa possibilidade, é perfeitamente natural pensar que “lá” também deva
existir uma complexa engenharia aeronáutica, fábricas de discos voadores,
linhas de montagem, máquinas, operários, técnicos, pilotos, simuladores,
aparelhos eletrônicos, automatismo. Ferramentas, logística, hangares,
manutenção, oficinas, sucatas, restos, lixo, talvez até reciclagem. Se
prosseguirmos nesse exercício, aos poucos, sem perceber, estaremos entrando
inapelavelmente para o terreno da fantasia e da ficção.
Se
nossos vizinhos cósmicos tivessem aparência menos humana e mais humanoide, o
quadro não mudaria. Eles precisariam ser muito diferentes, totalmente diferentes
para que então também pudéssemos pensar de maneira diferente. Convenientemente,
entretanto, não há registros de criaturas com aspecto androide, robôs,
rastejantes, artrópodes ou disformes, repugnantes ou aterrorizantes, Pois se de
fato houver vida em abundância espaço afora, será menos surpreendente se for
semelhante, em aparência, aos mais criativos e bizarros produtos da imaginação.
Pelas
leis da natureza, onde há vida há nascimento, crescimento, degeneração e morte,
logo, podemos supor que alhures existam aliens bebês,
crianças, jovens, adultos e idosos, sexuados, o que sugere a mais complexa
estrutura de organização social, ao feitio da nossa civilização moderna: casas,
escolas, hospitais, ensino, medicina.... Não há como articular um raciocínio
diferente. Não podemos imaginar que tudo funcione apertando botões, e ainda que
fosse, deverá haver uma “fábrica de botões”, fios, máquinas, operários,
engrenagens...
Após
avaliarmos em conjunto todas as variáveis incorporadas nesse
raciocínio, o que pode ser mais inconcebível do que acreditar que exista uma
civilização tão extraordinariamente semelhantes à nossa? E mais, próxima o
suficiente para nos visitar com a frequência alardeada? Crer em tal
possibilidade é deitar fora os mais elementares princípios de lógica. Se assim
fosse, o debate religioso assumiria proporções vulcânicas: deixaríamos de ser
tão “especiais”, sendo não mais que uma espécie inferior na escala evolutiva do
cosmos. As implicações culturais, sociais e psicológicas seriam difíceis de
prognosticar, mas teriam sem dúvida um efeito devastador. Onde estaria nossa
verdadeira origem? Seria possível administrar uma diversidade existencial tão
profunda (lembrando que estamos divagando em cima de uma única civilização!)?
É de se presumir que o choque psíquico não tem precedente na história humana.
Essas
deduções assentam-se em nossos padrões mentais, vale repetir, mas acontece que
estamos falando de algo não terrestre, não humano, e o que
delineamos sugestivamente é um cenário com todos os atributos do mundo
terrestre, humano, portanto uma evidente contradição. Se queremos pensar
objetivamente e sem incoerências, precisamos enganar, ou “anular” o
processo de construção mental que nos leva a estas conclusões. Como? Se tal
civilização existir de forma diferente da que imaginamos, não temos como
imaginar de forma diferente. E não há forma diferente de imaginar a
partir dos elementos conhecidos para formular o pensamento. Não é um
dilema, é lógica! Não há como ser de outro jeito! Para pensar fora do
universo mental em que estamos presos, temos que nos deslocar para um
“não-espaço”, um não-lugar, tal como o personagem Neo em “Matrix”, jogado no
vazio para reformular toda a sua estrutura sensório-pensante. É o que faremos
na segunda parte desta reflexão.
[1] A
bactéria GFAJ-1 substituiu o elemento fósforo por arsênio na sua composição. Em
que pese a previsível polêmica sobre a descoberta, a possibilidade deste fato
abre perspectivas extraordinárias da viabilidade de vida em outros sistemas
planetários.
CARLOS
ALBERTO REIS
Atravessando
o espelho mágico - II
EXCLUSIVO PARA A SOCEX
Esperando ter ficado
compreendido, no segmento anterior destas reflexões, que a existência de vida
extraterrestre inteligente é uma possibilidade bastante remota, diante
da dificuldade de se conceber uma civilização tão incrivelmente semelhante à
nossa – a única possível considerando os elementos que temos para imaginá-la.
Explicamos também ser impraticável pensar de modo diferente, dentro das nossas
estruturas mentais.
A título de ilustração, vamos
imaginar o clássico disco voador com a superfície polida, brilhante, com
janelas, ruídos, luzes multicoloridas, pés retráteis e outras particularidades.
Do veículo surge uma escadinha ou rampa por onde desce um tripulante com
aparência humana, porte apolíneo, olhos “penetrantes” e semblante sereno, um
autêntico “comandante”; acena e gesticula ensaiando uma comunicação, fala de
maneira clara, firme, inteligível, fluente com o idioma local e demonstrando
total conhecimento sobre nossa existência. Este exemplo não é uma fantasia, é a
fusão das centenas de “contatos” colhidos ao redor do mundo.
Com base nessa descrição, acrescida dos conceitos expressos na primeira parte, só
podemos deduzir que estamos diante de uma civilização em tudo e por tudo
semelhante à nossa, com diferença de alguns milhares, talvez milhões, de
anos.
O “comandante” obviamente se
apresentou dignamente vestido, e portanto sua roupa exigiu um fabricante,
maquinário e operadores e assim por diante. Ao falar no idioma local, qualquer
que seja ele, presume-se conhecer o sentido das palavras, a gramática,
linguística, a construção sintática, o significado das expressões, aprendidas
através de um super aparelho tradutor ou decodificador da linguagem humana.
Isso mais parece cena dos filmes de ficção B. Diga-se de passagem, a comparação
não é gratuita.
O cerne do problema está em
empregar conceitos humanos para tentar explicar o que seria, à primeira vista,
algo “não-humano” – uma cilada intelectual da qual nem a Ciência escapa, é
preciso reconhecer. Arriscaríamos afirmar que este talvez seja o ponto
mais importante no tratamento global da matéria, o útero de
onde nascem todas as discrepâncias, todos os conflitos e todos os silêncios.
Arriscaríamos dizer também que é uma questão vital para a
continuidade de qualquer discussão nessa área.
Pensar sem usar
suportes humanos bloqueia o raciocínio, cria um aparente dilema, provoca
premissas inválidas e paradoxais. No entanto é, no fundo, um magnífico mergulho
para dentro do espelho e se tornar o reflexo imaginário de uma realidade
inexistente, a única forma possível de entender – se for possível – do
que estamos falando.
Atravessar o
espelho e ser o reflexo imaginário de uma realidade inexistente?
Pura filosofia, com jeitão de
conto surreal. Por que o espelho? Porque ele possui um caráter temporal
associado ao espírito da imaginação e à consciência, como veículo capaz de
reproduzir os reflexos do mundo visível; e ao pensamento, como órgão de
autocontemplação narcísica do universo. O espelho também está associado à
verdade, quando confronta o si-mesmo: não é à toa que dizemos “olhe-se no
espelho” quando queremos que alguém encare a verdade.
Reflexo imaginário de uma
realidade inexistente?
Pois imagine-se diante de um
espelho no qual você se vê por inteiro e a tudo que o cerca. Aproxime-se, toque
a ponta do nariz no reflexo, dê um passo à frente e – zás! – você desapareceu!
Para sua surpresa e medo está agora do lado de lá, dentro do
espelho, no vazio absoluto, no meio do nada, instante zero, negação do tempo,
inverso da matéria, simulacro do real, espetáculo da criação. Não pode nem ver
o lugar em que estava, porque não há nada a ser refletido, nem o espelho existe
mais, e mesmo que estivesse esperando pelo seu retorno, você agora é apenas o
reflexo daquilo que não pode ver!
Como seu próprio
reflexo imaginário, agora passou a fazer parte de uma dimensão supra-humana,
inefável, onde nenhum paradigma é verdadeiro, nenhuma referência é válida e
nenhuma verdade é definitiva. É nesse envolvente e mágico espaço líquido – o
reino encantado de Magonia – que se manifestam os mitos, os sonhos, as fábulas
e os discos voadores, e somente inserido nesse espaço e só nele é que se pode
ter alguma chance de compreender a verdadeira natureza de cada um. Nele,
seremos sempre imagem e reflexo daquilo que estivermos procurando.